A menina dormia, sem recordações precisas, porque era uma eterna menina. Dormia no seu cestinho de vime, vestidinho de barra plissada, certo incomodo, é bem verdade, para um corpo tão pequenino. Talvez invenção de quem não fosse mais menina. Dormia de olhos abertos, sempre abertos, eternamente fixos. E pela menina passavam mãos que se aproximavam do seu cesto feito em berço, dedos que mexiam e remexiam, procurando objetos que ela, tão menina, desprezava o sentido. Não se importava, não queria saber de pó e palha, de choro ou alegria. E ano após ano, a menina dormia, sem recordações precisas, por que era uma eterna menina. Mas as mãos desconhecidas trabalharam muito com linhas, agulhas, tesouras, dedal, tecidos, alfinetes, colchetes? que fizeram do cesto de vime a marca de um tempo já passado, onde as mãos eram sempre femininas, com fiapos em transformação demorada. O cestinho de vime já estava aberto. Seus segredos e magias já se espalhavam mundo afora.
Adriana Gragnani – maio 2.017
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