Por onde passava, deixava um rastro de admiração. Suave, provavelmente
doce? quase translúcida. Branca de sem sol. Via-se nela o azulado da anileira,
que, se lhe dava formosura, também a vinculava a tradições da humanidade,
acúmulo de sabedorias em tingir e colorir. Seu passado? Ninguém sabia. De onde
viera? Alguns achavam que de um interior paulista ou de além-mar qualquer.
Quando nascera? Ignorava-se sua idade. Quem sabe muito viajada já que se viam,
na sua história revelada, pequenas flores aplicadas com ponto paris –
“faz-se-lhe uma dobrazinha, alinhava-se a aplicação ao tecido e contorna-se com
o ponto de Paris” – a cidade luz, momentaneamente, neste 2017, com luminosidade
reduzida... E de seu sombreado conclui-se construída com linhas finas, de boa
qualidade, o ponto sombra, com os quais se fazem “os mais delicados trabalhos,
sobre organdi, trabalhando do avesso, as cores à transparência tomam uns tons
de colorido muito fino.” Aqui e acolá, um bordado a cheio, terminando pequenos
e mimosos galhos em pé de flor, no Brasil o ponto haste, que compõe tantos
trabalhos. Ela chegou encolhida, dobrada e quase envergonhada pelas marcas
destoantes dos vincos que não pudera esconder. Naquele dia sentiu-se feliz.
Recebeu afagos carinhosos de mãos, que mesmo xeretas e curiosas, fizeram-na
lembrar daquelas com as quais fora bordada. Novamente dobrada e guardada, por
quantos dias, meses, décadas, permaneceria imóvel, com sua história a se
perder?
Texto e foto Adriana Gragnani – agosto de 2.017
Referência de pontos – A Enciclopédia da Agulha, Lisboa,
Portugal, Coleção Laura Santos, sem data.
Um comentário:
Linda toalha igual ao texto: sensível e delicado. Palavras bordadas. Parabéns!
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